Tecnologias cognitivas impõem mudança curricular

Tecnologias cognitivas impõem mudança curricular

Estudantes brasileiros de ensino superior consideram que seus cursos falham em prepará-los para atuar profissionalmente com tecnologias de inteligência artificial (IA). A constatação é de pesquisa sobre o tema com mais de 1.600 estudantes e profissionais envolvidos com IA em 82 países. O estudo foi realizado pela Praxian Research, empresa de pesquisa criada em 2003 por professores dos programas de pós-graduação e MBAs da Universidade de São Paulo (USP).

Resultados preliminares do levantamento, feito em ambiente on-line entre 25 de setembro e 6 de outubro, foram apresentados durante o simpósio internacional "Inteligência artificial e seus impactos sobre empresas e carreiras", realizado pela IBS Americas, escola de negócios da faculdade Americas International College, na quarta-feira, dia 10, em São Paulo, com apoio do Valor.

O estudo completo - que também aborda percepção dos respondentes quanto a investimentos em IA em seus países de origem e ambiente competitivo, entre outros aspectos, estará disponível para download nos sites do Valor e da revista "Época Negócios" a partir do dia 20. Segundo Cecília Galante, doutora pela Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP) e diretora da Praxian Research, mais de 80% dos universitários brasileiros que participaram do levantamento disseram que a formação acadêmica que estão recebendo não é suficiente para que trabalhem no futuro com novas tecnologias cognitivas.

A taxa de insatisfação é similar à constatada pelo estudo em países emergentes da Europa, mas bastante diferente das encontradas entre os respondentes do continente asiático, segundo Cecília. "Países como China, Índia, Paquistão e outros parecem ter despertado para essas novas tecnologias, com universidades adaptando seus cursos para preparar profissionais para as novas tendências."

Os dados apontam que 67% dos universitários de países em desenvolvimento na Ásia afirmaram que seus cursos superiores têm coberto de maneira satisfatória as disciplinas necessárias para que trabalhem a contento com IA. "Esse nível de satisfação é maior até mesmo do que observado entre estudantes dos países desenvolvidos contemplados na pesquisa."

O estudo também indica que há consciência entre os respondentes latino-americanos quanto a eventuais impactos negativos no mercado de trabalho decorrentes da automação de processos resultante da inteligência artificial.  "A expectativa de que a tendência resultará em perda de emprego entre pessoas com baixa qualificação é praticamente um consenso na região", diz a pesquisadora.

Na avaliação de Ricardo Britto, doutor em administração pela FEA-USP e diretor da Americas International College, as instituições de ensino no Brasil e, de resto, no mundo, ainda atuam de forma pouco ágil e conservadora no que se refere ao advento das tecnologias emergentes. Para mudar esse cenário, o estudioso defende mais do que a mera criação de disciplina de IA.

A questão central, segundo ele, será levar conhecimentos, práticas e ferramentas de IA para cada uma das disciplinas, sobretudo nos programas de administração de empresas e nas áreas de engenharia. "Não adianta o professor de marketing, por exemplo, continuar dando a sua aula habitual e, no fim do curso, outro professor falar de IA, ou o professor de RH manter sua aula tradicional e o aluno ter de fazer a ponte com IA. É preciso cutucar a comunidade acadêmica. Será necessária forte atualização nos currículos."

Fonte: Portal Valor Econômico
https://www.valor.com.br/empresas/5947293/tecnologias-cognitivas-impoem-mudanca-curricular


Publicado em: 26/10/2018 11:47:26