Economia "invisível" ganha corpo no Brasil
"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo, um carinho no momento preciso, o folhear de um livro de poemas, o cheiro que tinha um dia o próprio vento"...
(Mario Quintana)
Por Marcos Cavalcanti
Quando surgiram, no final da primeira década do século XXI, o UBER (2009), o Airbnb (2008) e o Whatsapp (2009) eram só três dos milhões de aplicativos que foram criados. No Brasil de hoje (2017), o UBER tem 13 milhões de usuários, o Airbnb tem 1 milhão de usuários e o Whatsapp tem 120 milhões de usuários! Repito, só no Brasil.
Estudo que acaba de ser publicado pela FIPE (USP), mostra que o Airbnb movimenta a economia brasileira três vezes mais que a rede hoteleira. Para o professor Eduardo Haddad, professor titular do departamento de economia da FEA-USP, "A análise indicou que a operação do Airbnb tem desdobramentos bastante interessantes em diversos setores. É um impacto amplo e ao mesmo tempo razoavelmente localizado na cidade em que o turista está". Só no Rio de Janeiro foram 360.000 hóspedes, mas cada dolar gasto por estes hóspedes movimentaram $4,59 na economia da cidade e acrescentaram R$ 114 milhões à renda das famílias na cidade, gerando 25.787 empregos.
Segundo o estudo, ao longo de 2016 foram mais de 1 milhão de hóspedes em todo o Brasil, que foram recebidos por quase90 mil anfitriões que tiveram um ganho anual de R$ 6.070,00. O resultado foi que esta movimentação gerou 788,2 milhões de reais a mais no PIB brasileiro do que se tivessem se hospedado em hotéis ou pousadas, segundo a Fipe.
O número de hóspedes que usam o Airbnb, quando comparados à rede hoteleira, ainda é baixo. Os hóspedes do Airbnb são apenas 2% do número de hóspedes totais no Brasil, mas seu impacto econômico já é enorme.
Com o UBER temos o mesmo fenômeno. Em São Paulo e Rio de Janeiro o número de motoristas de UBER já ultrapassou o número de motoristas de táxis. Estima-se que em São Paulo já existam 50.000 motoristas de UBER contra 28.000 táxis.
A economia "invisível" parece que deixou de ser marginal e ganhou corpo e relevância. Ela já é responsável por gerar trabalho e renda de forma significativa e a tendência é que ela ganhe cada vez mais espaço. Está mais do que na hora de repensarmos nossa forma de gerenciar empresas, organizações e o Estado. Quem não mudar sua forma de pensar e agir para se adaptar aos novos tempos vai desaparecer. Como nos lembra o Prof. Yves Doz, do INSEAD (França), muitas empresas vão falir não por que fizeram coisas erradas, mas por terem continuado a fazer as "coisas certas" por muito tempo... "Most companies die not because they do the wrong things but because they keep doing the right things too long!”
Marcos Cavalcanti, é doutor em Informática pela Université de Paris XI, professor da COPPE/UFRJ (Programa de Engenharia de Produção) e coordena os cursos de pós-graduação MBKM (Master on Business and Knowledge Management) e WIDA (Web Intelligence & Digital Ambience). É Membro do Board do New Club of Paris, editor da Revista Inteligência Empresarial e coautor dos livros O Conhecimento em Rede e Gestão de Empresas na Sociedade do Conhecimento e Gestão Eletrônica de documentos e Que ferramenta devo usar.
Publicado em: 21/03/2018 12:13:18
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